Para entender como um segredo pode produzir dificuldades e conflitos ao longo de várias gerações devemos analisar como é transmitido entre pais e filhos (segredos entre gerações).
Muitas pessoas apresentam comportamentos dúbios, como se fossem duas pessoas agindo em um único personagem.
A dupla ligação se apresenta quando se observamos a seguinte contradição: a expressão verbal (não há nenhum segredo) contradiz a não-verbal, onde o indivíduo manifesta a dor dos pais e ou ancestrais em relação a um determinado assunto, quer apresentando distúrbios no corpo físico e/ou nas suas emoções, como se portasse uma proibição tácita, em abordar o assunto.
A ligação dupla (double-bind) foi apresentada e desenvolvida por Gregory Batson e da Escola de Palo Alto, Califórnia, na década de 50, quando diversos profissionais de pensamento integrativo se reuniram para estudar comunicações disfuncionais dentro das famílias, incluindo crianças que sofriam de transtornos esquizofrênicos.?
Segundo Bateson e mais tarde Nicolas Abraham e Maria Torok, este tipo de comunicação paradoxal, cria um "curto-circuito" na criança que pode chegar a ser a causa da esquizofrenia, uma vez que porta uma CRIPTA que atravessa gerações.
Segredos de família criam problemas em várias gerações e bloqueiam a comunicação familiar.?A pessoa já não é a guardiã do segredo, mas torna-se sua prisioneira; tende a falar cada vez menos dos tópicos que podem ser conectados ao sigilo e, lentamente, começa a falar mais de si mesma por medo de revelar a tumba que porta na alma.
Nicolas Abraham (1919/1975) e Maria Torok (1925/1998), psicanalistas freudianos, perceberam que as dificuldades das pessoas, não eram simplesmente devido às suas experiências pessoais.?Em particular, alguns conflitos estavam relacionados com segredos de família que criaram os fantasmas (dificuldades de relacionamento, comportamentos de risco, obsessões, fobias, delírios de perseguição, alucinações, etc.) na prole.
Segundo eles o fantasma funciona como um ventríloquo: a pessoa é porta voz de uma mensagem que vem da ancestralidade.
De acordo com Abraão e Torok, fantasmas são os mortos que foram afetados pela infâmia e que levaram para o túmulo segredos vergonhosos.
O fantasma é uma manifestação dos vivos, expressada por alucinações individuais ou coletivas, que fluem à margem da história da família.
Os descendentes tornar-se portadores de uma cripta, onde permanece enterrado o segredo de um fato vergonhoso.
O fantasma é a produção inconsciente que tem a distinção de nunca ter sido consciente e que vem a partir da passagem de um segredo inconsciente de um pai para uma criança, um antepassado ao de um sucessor.
Guy Ausloo diz que em uma família o segredo passa por uma injunção paradoxal: é proibido saber, mas também é proibido esquecer.
Para compreender as causas programantes é imperioso fazer uma cuidadosa caminhada na árvore genealógica em busca destas CRIPTAS. Encontrando-as, abri-las com respeito e cuidado, emanando equilíbrio ao indivíduo portador do segredo e ao sistema como um todo.
Letícia Kuchockowolec Baccin
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